sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Distorções na relação Estudante x Instituição de Ensino x Mercado de Trabalho

Apesar de não ter freqüentado cursos de Administração, Gestão de Negócios ou similares, o fato de trabalhar em empresas da iniciativa privada, que pela essência do capitalismo são orientadas pela obtenção de lucros, e de ser cobrado por resultados, faz com que tenhamos uma certa noção a respeito do tema. Isto nos permite fazer certas análises, e faz com que possamos ver algumas coisas por uma ótica diferente.

Baseado nisso, gostaria de fazer alguns paralelos.

A padaria do seu bairro, qual o seu produto? O que ela vende?
Pãozinho? Correto.
E quem são seus clientes?
Quem compra o pãozinho no balcão da padaria? Correto.
Quem paga pelo pãozinho é o cliente, e enquanto este sujeito estiver satisfeito, suas necessidades sejam atendidas ou até superadas, ele continuará a comprar pãozinho, garantindo a lucratividade da padaria e o futuro do negócio.

Uma empresa que fabrica ônibus, qual o seu produto? O que ela vende?
Ônibus? Correto.
E quem são seus clientes?
Os passageiros? Errado.
Apesar de serem usuários finais e desfrutarem dos predicados ou sofrerem com os defeitos do produto da fábrica de ônibus, o cliente da fábrica é a empresa de ônibus.
Quem paga pelo ônibus é a empresa de ônibus, porém o fabricante deve estar preocupado não apenas com o seu cliente direto, mas também com o usuário final do seu produto, que é o passageiro, o cliente do seu cliente. Desta forma, se a empresa de ônibus prospera, ela volta a comprar mais ônibus, garantindo a lucratividade e a manutenção do negócio do fabricante.

Parece complicado? Então vamos ao próximo cenário.
Uma escola técnica, um curso profissionalizante, ou uma universidade, qual o seu produto?
Diplomas? Certificados? Errado.
E quem são seus clientes?
Os estudantes, que buscam as salas de aula dessas instituições para obter seus certificados e poder se lançar ao mercado de trabalho? Errado.

Aqui neste ponto eu tenho a impressão de que há uma inversão de valores.
No meu entendimento, o produto dessas instituições não são os diplomas, mas os profissionais formados por ela, e seus clientes na verdade são as empresas, é o mercado de trabalho. Os estudantes são a matéria-prima, que a escola vai transformar, agregar valor, até obter o produto final.

Um produto bom é um profissional qualificado. Se a instituição fornecer um produto bom, de qualidade, o mercado de trabalho gosta, e volta pedindo por mais produtos, à procura de mais profissionais egressos destas instituições. A reputação das instituições chama a atenção dos estudantes e estes a procuram em busca de formação, qualificação, fechando o ciclo.

Então, para garantir a manutenção do negócio destas escolas elas precisam ter o foco no mercado, analisar o que os clientes buscam, quais suas necessidades e anseios para então atrair mais estudantes e fazer a roda girar. O trabalho da escola não deveria acabar no momento em que o formando recebe o seu diploma, é necessário um trabalho de identificação da resposta do mercado ao seu produto, uma espécie de pós-vendas, para saber se está na direção correta ou não.

Uma pergunta que eu sempre fiz é, porque tem tanto engenheiro trabalhando no mercado financeiro, uma área onde deveriam reinar economistas, contadores e administradores de empresas?

Bem, a resposta que eu sempre ouvi foi a de que os engenheiros teriam mais habilidade para lidar com números, análises de cenários e tomadas de decisão. Mas no meu entendimento existem pelo menos outras duas respostas para esta pergunta.

A primeira delas é que as escolas de engenharia não estão sabendo adequar o seu volume de produção à demanda do mercado, como se o padeiro produzisse mais pãezinhos do que a vizinhança está consumindo. Resultado disso é que o pãozinho acaba sendo reciclado, põe um recheio, uma cobertura, serve gelado, tenta dar outro sabor, mas no fundo é um pãozinho.

A segunda alternativa é que as escolas de economia, contabilidade e administração não estão sabendo ouvir o que o mercado está pedindo, o cliente pede pão com gergelim mas na hora que sai a fornada vai lá e só encontra o mesmo pãozinho de sempre.

Outra pergunta, porque o índice de aprovação no exame da OAB é tão baixo?

É como se um cliente exigente chegasse na padaria e dissesse, eu compro toda a sua produção, pago o preço que for, mas os pães têm que ser clarinhos, não podem passar do ponto. O problema é que o nosso padeiro tem um forno a lenha e com o termômetro quebrado, ele só tira uma fornada quando começa a sentir o cheiro de pão queimado. Aí ele começa a separar os pães claros dos assados no ponto e dos queimados. Resultado disso, aquele cliente exigente chega com o caminhão para buscar a produção e acaba levando só meia dúzia. Uma outra porção de pães, aqueles que ficaram assados no ponto ainda acabam tendo colocação no mercado, para o cliente comum, a um preço irrisório. Mas a maioria dos pães está queimada e não têm valor comercial.

Imagine então o dia em que o padeiro resfriado, com o nariz entupido não sente o cheiro do pão assado. Para onde irá a produção dele?

Nos três exemplos do pãozinho, se o padeiro não se adequasse àquilo que o mercado está pedindo seu negócio estaria fadado a ruir. Agora vamos imaginar uma situação em que quem paga a conta do pãozinho não é o cliente que vem comprar no balcão, esse chega leva e não dá satisfação, o padeiro não está preocupado porque na verdade quem paga toda a despesa da padaria e ainda garante o seu lucro no negócio é o fornecedor de matéria-prima. Todo dia chega um caminhão de farinha, descarrega na padaria e vai pagando a conta do pãozinho enquanto a massa é preparada e assada, o pãozinho fica 15 minutos no balcão e se ninguém levar é jogado fora, porque a próxima fornada está vindo, paga pelo outro fornecedor de farinha.

Parece absurdo? Pois é, mas enquanto o estudante farinha paga a conta da universidade padaria e garante seus lucros, e o padeiro não se preocupa em assar o pão de acordo com o que o cliente mercado de trabalho está pedindo, quem leva o prejuízo é o pãozinho.

Mas como equacionar este problema? Difícil. Tentei imaginar 3 pontos:
- Metodologias de avaliação das instituições, de forma isenta, imparcial e objetiva, seja através de exames dos conselhos e entidades de classe, provões de final de curso ou outras formas, desde que bem estruturadas e unificadas permitindo a atribuição de notas e elaboração de rankings seriam uma medição da qualidade da formação profissional.

- Agências regulatórias e fiscalizadoras, como foi pensado para outros serviços básicos como telecomunicações, saúde, transportes, etc., mas com poder de fiscalização e regulação de fato, e eficiência em suas ações, viriam a auxiliar na elevação dos níveis de qualidade das instituições.

- Convênios e associações entre instituições de ensino e empresas aproximariam o cliente do fornecedor, porém na maioria das vezes essa associações dependem de um catalisador externo, papel na maioria das vezes do poder público através de seus institutos de fomento. O problema é que muitas vezes a liberação de recursos para investimento em pesquisa e desenvolvimento, por passar longe dos pilares de prioridades dos governos, acaba esbarrando em entraves burocráticos, tornando-se processos morosos e incertos, sendo que na maioria das vezes as empresas interessadas nesses convênios, devido à competitividade do mercado, não conseguem absorver os prazos dilatados e o nível de incerteza desses pedidos de financiamento e acabam buscando soluções tecnológicas prontas ou convênios com empresas e governos de outros países, transferindo a geração de conhecimento, e todos os benefícios que isso proporciona, para fora de nossas fronteiras.

Polícia na Universidade

Sobre os recentes acontecimentos na Universidade de São Paulo, gostaríamos de suscitar os seguintes pontos para a reflexão:
Que distorção de valores é esta, onde policiais exercendo sua função apropriadamente é uma coisa ruim?

Que distorção de valores é esta, onde uma minoria não representativa que teoricamente clama por liberdade pratique depredação e vandalismo?

Que distorção de valores é esta, onde uma minoria não representativa que teoricamente clama por igualdade deseja ter tratamento diferenciado dos demais só por estar dentro do campus?

Que distorção de valores é esta, onde uma minoria não representativa que teoricamente clama por fraternidade impede que seus colegas, uma maioria representativa porém não organizada, estudem?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Por quê Educação? Uma perspectiva biológico-evolutiva

Na evolução, todo animal que é selecionado para continuar povoando o planeta se diferenciou dos outros por que desenvolveu alguma característica ou habilidade que aumentou as suas chances de sobrevivência. Podemos citar como exemplo a visão noturna da coruja, o olfato e audição aguçados do cachorro, a habilidade de caçar dos felinos, o sonar dos morcegos e assim por diante. Pode parecer óbvio, mas se um animal possui uma habilidade que o diferencia dos demais e não a usa ele diminui suas chances de sobrevivência. Se uma coruja não usa a sua visão noturna ela vira um alvo fácil para seus predadores. No caso do ser humano a habilidade que nos diferenciais dos demais animais é a capacidade intelectual.

Capacidade intelectual é a capacidade de um autômato de inferir os padrões com os quais interage e usar tais impressões para aumentar sua capacidade de interação com o ambiente e de assimilação de padrões.

Quando duas ou mais grandezas comprovadamente possuem alta correlação, um padrão se estabelece. Eventualmente duas grandezas podem ter alta correlação, mas se esta não for comprovada não temos um padrão e sim uma coincidência. Sempre que alguém dá cabo a uma coincidência sem antes averiguar se a correlação entre as grandezas é real está agindo contra ao desenvolvimento da humanidade.

Ao conjunto de padrões conhecidos damos o nome de conhecimento e para facilitar a nossa vida, dividimos o conhecimento humano em subgrupos chamados campos do conhecimento. Alguns exemplos de campos do conhecimento são a matemática, história, geografia, física, química, engenharia, economia, medicina e assim por diante.

Sempre que alguém infere um padrão, ele só fará parte do conhecimento humano se o mesmo for compartilhado e a única maneira de fazer isso é através da comunicação. Para se comunicar com outra pessoa é necessário usar uma linguagem. Existem vários tipos de linguagem, mas para simplificar vamos dividi-la em dois grupos: a linguagem objetiva e a linguagem subjetiva.

A linguagem objetiva é precisa, portanto não são admitidos erros de interpretação. Como exemplo, podemos citar a linguagem matemática. Como sugere a própria definição e pode ser facilmente demonstrado, tal linguagem é inerentemente exata e a mensagem transmitida é exatamente a mensagem recebida.

Sempre que alguém utiliza a linguagem objetiva está colaborando para expandir os campos de conhecimentos científicos. Ciência é a atividade de transmissão de padrões em linguagem objetiva.
A linguagem subjetiva é imprecisa, portanto existe uma perda entre a mensagem transmitida e a mensagem interpretada. Como exemplo, podemos citar as linguagens visuais e auditivas. Como sugere a própria definição e pode ser facilmente demonstrado, tais linguagens são inerentemente passíveis de interpretações diversas. Também são conhecidas como linguagens não-matemáticas.

Sempre que alguém utiliza a linguagem subjetiva está colaborando para expandir os campos de conhecimentos artísticos. Arte é a atividade de transmissão de padrões em linguagem subjetiva.

Como comprovado anteriormente, a vida para os seres humanos não faz sentido sem que se utilize a capacidade intelectual, e as duas formas válidas de usar a capacidade intelectual são através do estudo das ciências e das artes. Pois bem, é na escola em que as crianças e jovens tem contato com os campos de conhecimento científicos e artísticos, portanto podemos concluir:

“A vida não faz sentido sem uma Educação Básica de qualidade.”

Agora com o intuito de testar a validade desta afirmação, vamos fazer um exercício mental e ver o que acontece com quem não possui uma educação básica de qualidade.

A Educação Básica no Brasil consiste da educação infantil, a educação fundamental e o ensino médio. A educação infantil consiste de creches, crianças de 0 a 3 anos; e da pré-escola, crianças de 4 a 5 anos. A educação infantil consiste de nove séries, crianças de 6 a 14 anos. E o Ensino médio consiste de séries, com jovens de 15 a 17 anos. A partir do final do Ensino Básico, os jovens possuem diversas oportunidades de escolha como o ensino profissionalizante, o ensino superior, o empreendedorismo, carreira nas forças armadas, e assim por diante.

Os objetivos do Ensino Básico são a alfabetização, o letramento e a introdução ao estudo dos campos de conhecimentos básicos como língua portuguesa, matemática, física, química, história, geografia, artes e esportes.

Uma vez que uma criança não tenha acesso a um ensino básico de qualidade resultará num adulto com deficiências de aprendizado nestas áreas, vamos a alguns exemplos das possíveis conseqüências:

Um adulto que não tenha sido alfabetizado não é capaz de sozinho fazer tarefas simples como operar um aparelho micro-ondas, fazer uma ligação telefônica, fazer o sinal para o ônibus certo parar.

Um adulto que mesmo alfabetizado, mas iletrado não será capaz de exprimir suas idéias de forma clara, tampouco entender as idéias que lhe são passadas.

Um adulto que teve deficiência de aprendizado em matemática precisará usar uma calculadora para somar dois mais três antes de pagar uma conta, e mesmo assim correrá o risco de ser enganado por um feirante.

Um adulto que nunca tenha praticado esporte dificilmente entenderá que tanto na vida, aquele que mais se dedica vencerá. Um adulto que nunca tenha praticado esportes coletivos dificilmente entenderá que para um time vencer é preciso ter espírito de equipe, que é normal que cada um tenha uma função diferente, e se todos fizerem bem a sua função a equipe toda atinge o objetivo comum.

Um adulto que nunca tenha tido acesso à arte, como ouvir música de boa qualidade, ler os clássicos da literatura e ver quadros que foram eternizados no decorrer da história, nunca abrirá sua percepção para as verdades da vida, só aprenderá o que sentir na própria pele.

Resumindo, uma criança que não tiver acesso a um ensino básico de qualidade não será capaz de interagir com os outros e com o meio onde se encontra. Um ser humano que possua perfeitas condições de interagir com as outras e com o meio, mas não o faz não passa de um fardo para a sociedade, biológico-evolutivamente sua vida não faz sentido. Conforme queríamos demonstrar.

Por quê Educação? Uma perspectiva sócio-financeira

Atualmente é grande o número de crianças com dificuldade de aprendizado em matemática, o Brasil é o país de maior taxa de juros do mundo e é sabido ainda que grande parte da população brasileira está endividada.

Para tentar explicar a relação entre estes três fatores vou usar a frase de um autor desconhecido que eu gosto bastante:
Existem dois tipos de pessoas, as que entenderam e as que não entenderam os juros compostos. As que entenderam, provavelmente estão desfrutando dos rendimentos de seus investimentos de longo prazo. As que não entenderam, provavelmente estão pagando o enorme ônus de seus financiamentos de longo prazo.

Por não entender como funciona a conta dos juros compostos, as pessoas apenas se preocupam se a parcela de um determinado financiamento cabe no orçamento ou não, não se importando com o montante total pago pelo produto ou serviço.

Portanto, a conclusão é que a deficiência de aprendizado em matemática, aliado com os altos juros do país tem agravado um grande problema na nossa sociedade: as empresas que mais dão lucro no país são as que exploram recursos naturais (commodities), depois vês as instituições financeiras e só depois as empresas que manufaturam algum produto com valor agregado. As empresas que produzem ganham muito menos que aquelas que apenas especulam, isso é um grande obstáculo para o desenvolvimento do país.

De forma alguma quero diminuir a importância das instituições financeiras que são essenciais na economia. Mas me irrita muito ver instituições financeiras oferecendo empréstimos de 8 anos para se comprar um carro, empréstimos de 30 anos para comprar uma casa, empréstimos de 5 anos para se pagar os armários da cozinha. Chega a ser irresponsável e inescrupuloso. Sob a bandeira de que graças e eles as populações de baixa renda passam a ter acesso aos confortos da vida moderna, eles se aproveitam da ignorância da população para alavancar mais ainda seus estrondosos lucros.

Enquanto os meios especulativos forem mais rentáveis que os meios de produção o país não avançará. E para reverter esta situação, basta diminuir as crianças com deficiência de aprendizado em matemática, sendo mais específico ainda, as pessoas tem que entender as conseqüências dos juros compostos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Escândalo no ENEM 2011

Segue link das notícias:
Polícia Federal instaura inquérito para investigar vazamento no Enem 2011

Enem: prova teria vazado no CE; MPF quer anulação do exame

Insatisfeito com o MEC, procurador da República pedirá anulação do Enem 2011
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/insatisfeito-com-o-mec-procurador-da-republica-pedira-anulacao-do-enem-2011
Só pra mostrar que ainda falta consertar muita coisa no nosso país. Por isso apoiamos a destinação de parte dos royalties do petróleo da camada pré-sal para a Educação.

domingo, 23 de outubro de 2011

Riquezas Naturais e a Educação

Na década de 70 o Chile do ditador Pinochet começou a explorar o cobre da Cordilheira dos Andes e encheu o rabo de dinheiro. Na época o ditador resolveu investir o dinheiro nas forças armadas, hoje em dia o Chile possui uma das melhores forças armadas da América do Sul, tudo isso custeado com a renda do minério de cobre.

Ainda na América do Sul, temos a Venezuela cheia de petróleo, e seu “ditador” resolveu usar o dinheiro para financiar governos de esquerda na América Latina e “peitar” os Estados Unidos.

A Noruega também possui petróleo às tubas, mas percebeu que um dia a fonte vai secar e está se preparando para isso, grande parte dinheiro arrecadado com a exploração do petróleo é destinado para um fundo de longo prazo, que provavelmente vai garantir que o país mantenha a primeira posição no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no mundo.

Já os países árabes que possuem muito petróleo estão usando o dinheiro para construir palácios para os xeiques e investir um pouco em turismo de alto padrão. Provavelmente esta iniciativa irá garantir um pouco de luxo para os xeiques quando a fonte de óleo negro secar. Alguns países árabes decidiram ainda usar o dinheiro do petróleo para financiar guerras religiosas sem fim.

Um país que ainda não entendi é a Nigéria. O país nada em petróleo, diamantes e favelas. Existe algo de muito errado na Nigéria.

O Brasil recentemente descobriu enormes quantias de petróleo na camada pré-sal. A quantidade de dinheiro decorrente destas descobertas será equivale a um mendigo ganhar sozinho na loteria acumulada. Chegamos enfim numa encruzilhada onde devemos decidir que caminho tomar: o caminho da Noruega, da Venezuela, do Chile, da Arábia Saudita ou aproveitaremos esta chance de ouro para melhorar alguma coisa.

Faz algum tempo, mas nas minhas primeiras aulas de história lá no Belenzinho em São Paulo, me lembro que depois do descobrimento, os portugueses começaram a saquear as riquezas naturais do Brasil como o pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro e pedras preciosas. Em troca dava aos índios que lá estavam artigos fúteis como espelhos, escovas, roupas velhas e assim por diante.

Pois eu acho que o que acontece hoje no país não é muito diferente. Exportamos petróleo, minério de ferro e soja. Em troca, conseguimos smartphones, tablets, Nintendos Wii e Playstations.

Se quisermos dar o passo definitivo para resolver os problemas do país deveríamos aproveitar o bilhete premiado para investir em educação.

Infelizmente o nosso governo aumenta seu tamanho de acordo com o poder de arrecadação: quanto mais arrecada, mais a máquina do estado cresce. E atualmente temos visto uma verdadeira guerra pela disputa dos royallites do petróleo em Brasília. Do jeito que as coisas andam jogaremos mais uma chance de ouro pelo buraco.

Prós e Contras

Este blog faz hoje uma semana. Nesta primeira semana de vida o blog teve 6 textos publicados e 120 visitas. Algumas pessoas manifestaram apoio à causa aqui defendida e até me mandaram artigos que ajudam a corroborar as idéias aqui divulgadas, o que me deixa muito feliz e satisfeito. Entretanto, algumas pessoas se mostraram contrárias e confesso que fiquei bastante surpreso. Não sou contra a críticas, aliás sou a favor, elas são uma excelente oportunidade de reflexão e crescimento.


Apesar do trocadilho do título do blog dizer que Só a Educação Salva o Brasil, a educação não é a solução para todos os problemas, muitas outras coisas precisam acontecer em paralelo também. Algumas delas até são conseqüência de um povo mais evoluído, mas outras não. Esta crítica me fez refletir bastante e até cogitar mudar o nome do blog, mas não o farei. Minha conclusão é que a educação sozinha realmente não salvará o Brasil, mas qualquer solução que não englobe mais investimento em educação certamente fracassará. Portanto continuo convicto do “moto” deste blog e continuarei defendendo aqui que a educação seja levada mais a sério no nosso país.

Problem Based Learning

Semana passada conversei com uma colega que é doutora em estatística. Ela me contou ficou 15 dias na Holanda para aprender uma nova metodologia e ao voltar irá ajudará a reformular totalmente um dos melhores cursos de economia do país. A nova metodologia que ela vai aprender é a PBL: Problem Based Learning, ou traduzindo: aprendizado através de problemas.

Aí conversei com a minha esposa, que é pedagoga, para entender melhor o que é PBL. Ela me explicou que esta metodologia é um meio termo entre o método tradicional e o construtivismo.

O processo tradicional de formação de conhecimento baseia-se apenas na orientação cognitiva, com teoria e prática repassada por um professor, este como principal agente, interagindo de maneira ativa, tornando assim o estudante, um agente passivo. Neste modelo não há incentivo, nem espaço, para desenvolver o auto-aprendizado.

Construtivismo é uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio. Esta concepção do conhecimento e da aprendizagem que derivam, principalmente, das teorias da epistemologia genética de Jean Piaget e da pesquisa sócio-histórica de Lev Vygotsky, parte da idéia de que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada.

O “Problem Based Learning” é uma linha pedagógica onde o aluno deixa de ser agente passivo e se torna agente ativo na busca do conhecimento e o professor deixa de ser o único agente ativo tornando-se um facilitador, mostrando aos alunos o caminho a ser seguido. O ciclo de aprendizado começa com o aluno lendo sozinho um material introdutório sobre o assunto, na seqüência, o professor apresenta aos alunos um problema a ser resolvido, despertando o interesse dos alunos. Esta quase “provocação” é o diferencial do processo, pois estimula a curiosidade e a criatividade dos alunos. Na seqüência os alunos devem se reunir em grupos para discutir e desenvolver um trabalho de preferência em um laboratório seja de física, química, ou apenas de informática mesmo. Após a apresentação dos trabalhos, o facilitador (professor) comanda uma grande discussão sobre os resultados, analisando as conclusões dos alunos e complementando com detalhes que eventualmente ficaram de fora.

Depois que entendi o que era PBL, lembrei que eu já tinha ouvido falar sobre isso. Eu conheço um colégio que já utiliza este método há algum tempo. É o Colégio Embraer (Colégio Engenheiro Juarez Wanderley). Ficou claro pra mim o porquê aqueles jovens são tão motivados e não vêem a hora de ir pra escola, o que raramente acontece com escolas com o método tradicional. Não sou especialista nem nada, mas me pareceu que com o PBL o pessoal conseguiu finalmente tornar o ensino algo mais agradável e atraente para todos os jovens. 

Ótimo, então é só sair aplicando esta nova metodologia em tudo quanto é escola e pronto. Infelizmente não é tão simples assim. A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 rege que o estado deve proporcionar educação de igual qualidade para todas as crianças do país, a chamada universalização da educação. A intenção da lei é perfeita, mas ela possui um efeito colateral complicado. Ao obrigar o estado a proporcionar educação de igual qualidade para todos, a lei engessa os processos de melhoria.

Suponha que o governo receba um estudo mostrando que a progressão continuada traz benefícios para o aprendizado das crianças, o ideal seria começar fazendo um teste com um grupo de crianças de uma determinada escola. Se os resultados forem bons, o teste poderia ser ampliado para mais crianças e mais escolas; e se os resultados continuassem bons o método poderia ser aplicado no país inteiro. Se os resultados não forem bons, seria mais fácil fazer um plano de contingência para reparar os prejuízos naquele grupo pequeno de crianças.

No entanto, dada a universalização da educação, este teste não pode ser feito porque por um dado momento o estado estaria proporcionando educação de diferente qualidade para um grupo de jovens. Se o estado quiser fazer um teste em relação a progressão continuada tem que baixar um decreto aplicando o novo método para todas as escolas públicas do país, mesmo não estando convencido da eficácia do método. Em caso negativo, teremos algumas gerações de jovens com prejuízo no aprendizado, impossibilitando que reparos sejam realizados.

O mesmo se aplica ao PBL. Como não é possível fazer testes com pequenos grupos de crianças de uma dada escola, as escolas públicas continuam com o método tradicional de ensino, apesar dos excelentes resultados do PBL.

Referências
PBL
Construtivismo
Lei de Diretrizes e Bases de 1996

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mudança Cultural Através da Educação

A cultura do brasileiro está incrustada de malandragem, pilantragem e picaretagem. Para qualquer lugar que olhamos vemos produtos piratas, sonegação de impostos, corrupção, propinas, nepotismo, falsidade ideológica, tráfico de influência, falsificação de documentos, mentiras, golpes e fraudes.

E não é de agora, ao ler o texto: “Jeitinho Brasileiro” no blog Art Perceptions (http://www.artperceptions.com/2011/10/o-jeitinho-brasileiro.html) podemos perceber que essa cultura de malandragem existe no Brasil desde os primórdios do descobrimento.

A distorção de valores é tão grande que ao invés de prezarmos pela meritocracia, onde a pessoa que tem maior mérito recebe o maior prêmio; a maioria da população preza pela mediocridade. Calma que eu explico e exemplifico.

Se alguém se dá mal em qualquer ramo de atividade, a maioria das pessoas sente pena: “que coitadinho... foi roubado, injustiçado, merecia coisa melhor”. Se a situação for no esporte por exemplo, ela seria a “campeã moral”, expressão criada pela imprensa esportiva brasileira, digna de quem não sabe perder uma competição. Agora se alguém começa a progredir na vida, se constrói ou produz alguma coisa com suor e trabalho, os primeiros comentários são bem pejorativos: “Aí tem coisa errada! Deve estar fazendo alguma mutreta! Deve ter se aliado com bandido! É uma injustiça esta pessoa ter tanto e existirem tantos outros pobres coitados sem nada!”

A distorção de valores pode chegar ao ponto em que pessoas que não compactuam com atitudes fraudulentas como sonegar impostos, falsificar documentos ou comprar produto pirata serem tachadas de otárias! Acontece que a grande maioria da população brasileira encontra-se num nível muito baixo de consciência ética.

Explicando melhor o que é ética, existem hoje em dia duas abordagens sobre o assunto, a ética de convicção e a ética de responsabilidade (utilitarismo). A primeira se preocupa com o cumprimento ou não de normas, regras, leis e princípios; e a segunda foca na análise das circunstâncias, dos riscos, custos e benefícios, e conseqüências das decisões. Baseado na combinação destes dois modelos é possível criar níveis de comportamento ético nas tomadas de decisão, e de forma bem simplificada são: 

-
egocêntrico, não faz análise das conseqüências - inconseqüente
- egocêntrico, faz análise dos riscos, porém tem medo de punições - medroso
- egocêntrico, porém faz uma análise de risco da situação e assumem as possíveis conseqüências - os fins justificam os meios
- egocêntrico, motivado por levar vantagem da situação - malandrão
- motivado pela aceitação do grupo independente de juízo moral - Maria vai com as outras
- motivado pelo cumprimento das leis ou regras, porém sem juízo moral, cumpre as leis cegamente - Caxias
- motivado pelo cumprimento das leis quando possível, porém com juízo moral, pode não fazer algo que fira seus princípios (religiosos, morais, passados pelos pais durante a infância e assim por diante) mesmo sendo "legal" - seguidor de princípios
- motivado pelo bem pessoal, e na medida do possível no bem da maioria - justo
- motivado pelo bem da maioria, exceto quando a maioria não o inclui - o falso altruísta
- motivado pelo bem da maioria mesmo não pertencendo a ela - altruísta

Obviamente é difícil saber como a população de um país se encontra nesta escala. Mas já ouvi dizer que aproximadamente 80% da população brasileira tomam suas decisões no quarto nível (malandrão).

Isso tem que mudar imediatamente! A única questão é que uma mudança cultural deste porte, que já tem uma inércia de 500 anos não acontece da noite para o dia, ela levaria muito tempo, entretanto a mudança cultural pode ser acelerada através da educação!

Se o Brasil tivesse um ensino de qualidade, mais crianças teriam acesso a uma boa educação. Uma criança que tem uma boa formação acaba evoluindo tanto o seu padrão de vida quanto o nível na escala de ética. Quanto mais jovens e adolescentes tiverem uma boa formação acadêmica, mais evoluirão na escala de ética.

O metrô de São Paulo tem a filosofia de manter as instalações as mais limpas possíveis. Se alguém suja o trem ou as passarelas, a equipe de limpeza é acionada rapidamente. O conceito por trás desta filosofia mostra é de inibir que as pessoas sujem o local público. Um metrô sujo, pixado e depredado acaba estimulando mais vandalismo. “Todo mundo joga lixo no chão, por que eu também não vou fazer o mesmo?”. Já um lugar limpo acaba inibindo este tipo de comportamento. Usando o mesmo raciocínio, um ambiente onde a maioria das pessoas não infringe as leis e condena atitudes antiéticas acaba estimulando as pessoas a fazer o mesmo, fazendo com que haja a evolução do quarto (malandrão) para o quinto (Maria vai com as outras) nível ético. Pode parecer pouco, mas este quinto nível é o primeiro em que a decisão é tomada com base em alguma análise do grupo (altruísmo) ao invés de apenas no indivíduo (egocentrismo) sendo, portanto uma das mais difíceis evoluções na escala.

Este é mais um exemplo de como a educação pode e deve se tornar um diferencial na evolução de uma nação. E o investimento em educação não é o único fator determinante para esta mudança cultural, outras coisas têm que acontecer em paralelo: pais têm que dar exemplo aos filhos, governantes tem que dar o exemplo para a população, a impunidade tem que acabar, as pessoas tem que acreditar no sistema, aos poucos as pessoas tem que criar uma consciência coletiva e perceber que unidas com um mesmo propósito elas conseguem ir mais longe.

domingo, 16 de outubro de 2011

Colégio Embraer

Mês passado fui conhecer o Colégio Embraer Juarez Wanderley. Foi emocionante conversar com alunos do ensino médio que não vêem a hora de ir pra escola. E perceberam que o único caminho para mudar a situação do país é através da educação. O resultado é este, a quarta melhor escola do estado de São Paulo e a trigésima do Brasil.
Muito do que vi lá me motivaram a criar o “Só a Educação Salva o Brasil!”. Se você concorda com esta idéia, ajude a divulgar este canal.

O Fim da Pobreza

Na década de 90, o Banco Mundial coordenou um estudo para encontrar um jeito de acabar com a pobreza no mundo. O resultado mostrou que os pobres normalmente não têm acesso a educação, e por isso tem muitos filhos. Os filhos acabam não tendo acesso a educação também por que tem que trabalhar muito cedo para ajudar na renda familiar, e com isso o ciclo de pobreza só aumenta.

O modelo sugerido para quebrar este ciclo de pobreza foi a criação de um programa de incentivo a educação para crianças carentes. Ao ter acesso à educação, estas crianças seriam inseridas no mercado de trabalho, podendo proporcionar melhores condições a seus filhos, que conseqüentemente teriam acesso a educação, quebrando assim o ciclo da pobreza desta família.

Para o sucesso do programa, era fundamental escolher crianças carentes que estivessem dispostas a se dedicar ao estudo, dar a elas as condições necessárias para que elas só estudassem, na forma de dinheiro para sua família e fiscalizar o seu desempenho na escola. Caso alguma se desinteressasse pelos estudos a bolsa seria cortada e dada a um jovem disposto a seguir em frente.

O modelo foi seguido por México, Chile, Brasil e Bangladesh com grande sucesso. 


No Brasil, atualmente este programa foi substituído por outro que distribui menos dinheiro, mas para mais gente, desviando-se da proposta inicial e sem eficácia comprovada. Sem entrar no mérito do que é melhor ou não, acredito muito no modelo de programa sugerido pelo Banco Mundial para quebrar o ciclo da pobreza através da educação. Existem vários programas não governamentais que seguem este modelo.

A Embraer criou e mantém o Colégio Embraer Juarez Wanderley, destinada a jovens carentes, dando todo apoio (educacional, financeiro, pedagógico e psicológico) até que eles entrem numa faculdade pública. Hoje a escola é quarta melhor escola do estado de São Paulo, usando a nota do ENEM como critério.

Segue o ranking do ENEM de 2010:

Notícia da colocação alcançada pela escola:

O Fundo de Bolsas do Instituto Embraer, que por enquanto vive de doações, dá bolsas de estudo para estes jovens que freqüentaram o colégio e precisarão mudar de cidade para cursar a faculdade. Depois de tanto investimento, seria um grande desperdício permitir que este jovem largue a faculdade no meio por não ter dinheiro para pagar xerox das apostilas. O Fundo de Bolsas do Instituto Embraer segue exatamente o modelo sugerido pelo Banco Mundial para quebrar o ciclo da pobreza. Este modelo deve ser seguido, divulgado e ampliado.

Mais informações:
Instituto Embraer
Colégio Embraer Juarez Wanderley
Fundo de Bolsas

sábado, 15 de outubro de 2011

Citações sobre Educação


“A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do próprio conhecimento.”
Platão (428 a.C. -347 a.C.)


“A educação pode ter raízes amargas, mas tem frutos doces.”
Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

“Só a educação liberta.”
Epicteto (55-135)

“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.”
Leonardo da Vinci (1452-1519)

“Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.”
Blaise Pascal (1623-1662)

“O homem não é nada além daquilo que a educação fez dele.”
Immanuel Kant (1724-1804)

“O homem que não lê não tem mais mérito que o homem que não sabe ler.”
Mark Twain (1835-1910)

“Não há progresso sem mudança. E quem não consegue mudar a si mesmo, acaba não mudando coisa nenhuma.”
George Bernard Shaw (1856-1950)

“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein (1879-1955)

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
Cora Coralina (1889-1985)

“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.”
Sir Arthur Lewis (1915-1991)

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
Nelson Mandela (1918-)

“Se você acha que a educação é cara experimente a ignorância.”
Derek Bok (1930-)

“Se o conhecimento traz problemas, não é a ignorância que os resolve.”
O conhecimento é indivisível. Quando as pessoas aumentam a sabedoria em uma direção, fica cada vez mais fácil crescer a sabedoria em todas as outras direções. Por outro lado, quando elas se separam do conhecimento e se concentram apenas em um único campo de conhecimento, elas crescem menos sábias, mesmo em seu próprio campo de conhecimento. 

“O verdadeiro artista é tão racional quanto criativo e sabe exatamente o que está fazendo; caso contrário sua arte sofre. O verdadeiro cientista é tão criativo quanto racional, e às vezes se lança para soluções onde a razão só consegue acompanhar lentamente; caso contrário sua ciência sofre.”
Isaac Asimov (1920-1992)

“Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Por isso aprendemos sempre.”
Paulo Freire (1921-1997)

“A vida não faz sentido sem o estudo da ciência e da arte.”
Editorial Artperceptions (2011)

Dia do Professor!

Hoje é 15 de Outubro de 2011, dia do professor e data ideal para estrear o blog: Só a Educação Salva o Brasil! Neste blog divulgarei textos enfatizando a importância da educação em nossa sociedade e como o investimento em educação pode transformar a realidade do Brasil. As idéias aqui divulgadas não ficarão apenas no papel. Se você concorda com o poder da educação ajude a divulgar este canal de comunicação e participe de suas ações.

Enquanto isso, parabéns a todos os professores do país, afinal: só a Educação Salva o Brasil!