terça-feira, 15 de novembro de 2011

Educadores do Brasil – Anália Franco

Educadores do Brasil é uma série de textos que descreve um breve histórico de vida e obra de brasileiros que fizeram a diferença na história da educação no país.
Anália Emília Franco (Anália Franco Bastos após o casamento) (1856-1919) nasceu em Resende – RJ, e mudou-se para São Paulo em 1861. Em 1868, com 15 anos de idade, já ajudava sua mãe, que era professora, em colégios de Guaratinguetá, Jacareí e Arraial de Minas. Em 1872 foi aprovada num Concurso de Câmara, passando a trabalhar oficialmente como assistente de sua mãe. Retoma os estudos em 1877 e em 1878 forma-se professora na Escola Normal Secundária de São Paulo. Em 1888 é nomeada professora pública, após exame prestado. Mas Anália Franco não se restringiu ao magistério.

Quando descobriu que as crianças filhas de escravas estavam a ser encaminhados à Santa Casa de Misericórdia, dado que após a Lei do Ventre Livre (1871) as tornara livres, Anália Franco largou seu cargo de professora na capital e se mudou para o interior com o intuito de socorrer estas crianças abandonadas.

Uma fazendeira ofereceu uma casa para instalar uma escola primária no interior, só que a fazendeira lhe impôs a condição de segregação entre crianças brancas e afro-descendentes com o intuito de evitar promiscuidade para a cessão gratuita do imóvel. Anália considerou aquilo uma afronta e recusou terminantemente. Após este evento voltou para a cidade, alugou uma velha casa, consumindo com essa despesa a metade do seu salário. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não hesitou em ir pessoalmente pedir esmolas para prover as crianças, que referia carinhosamente em seus escritos como os "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças desamparadas. Embora essas práticas chocassem o setor conservador da cidade, Anália obteve o apoio de um grupo de abolicionistas e republicanos.

Desse modo, ao longo do tempo, implantou algumas escolas maternais no interior do estado e na capital paulista, ainda com o apoio do grupo abolicionista e republicano. O seu prestígio no seio do professorado já era grande quando finalmente foi decretada a abolição da escravatura (1888) e a República (1889). O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos.

A preocupação de Anália Franco com a educação e profissionalização da mulher teve, também sem sombra de dúvida, um caráter pioneiro. Ao se preocupar com a educação e a profissionalização da mulher, sentiu também a necessidade de criar albergues para as crianças enquanto suas mães trabalhavam. Foi, portanto a primeira educadora a utilizar termos como creches e escolas maternais para denominar suas instituições destinadas à infância.

Pouco depois, com o apoio de vinte senhoras, fundou o instituto educacional que se denominou Associação Feminina Beneficente e Instrutiva. A Associação Feminina mantinha ainda um bazar para a venda dos artefatos produzidos nas suas oficinas.

Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares", instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu Feminino", destinado a instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de "Escolas Maternais" e de três anos para as de "Escolas Elementares".

O Pensamento da educadora pode ser resumido por certos pressupostos como a valorização da formação do professor de educação infantil, orientado para a busca do desenvolvimento da criança. Anália define a escola maternal não como uma escola no sentido restrito, mas como a transição da família para a escola, uma organização que tem como objetivo a educação dos sentidos, o desenvolvimento intelectual, a aquisição de hábitos e o atendimento das diferenças individuais

Em 1911 recebeu como doação a Chácara Paraíso, 75 alqueires de terra na zona leste de São Paulo. Nesse espaço fundou a Colônia Regeneradora D. Romualdo, aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os rapazes mais aptos para a agricultura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres. Hoje o casarão abriga uma universidade e a Chácara Paraíso tornou-se um dos bairros mais aconchegantes de São Paulo, o Jardim Anália Franco.

Ao final da vida, Anália Franco constituiu 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura em 24 cidades do interior e da capital.

Veio a falecer de gripe espanhola em 1919. Anália Franco tinha como meta a erradicação do analfabetismo, do preconceito, da injustiça; o combate a miséria e a pobreza. Teve uma vida exemplar e sua dedicação à educação e a inclusão social deve ser lembrada e servir de exemplo para todos os paulistanos, paulistas e brasileiros. Segue abaixo duas de suas principais citações:

“Não há vida feliz, individual ou coletiva sem ideal...”
“A verdadeira caridade não é acolher o desprotegido, mas promover-lhe a capacidade de se libertar.”
Anália Franco

Referências
Anália Franco

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