quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma dura realidade

O Só a Educação Salva o Brasil defende que jovens que precisem trabalhar desde cedo e por conta disso desistem de estudar tenham a mesma oportunidade daqueles que tem. Para aqueles que tem dificuldade financeira, até mesmo cursar uma universidade pública é difícil. Vejam este depoimento de um bolsista do Instituto Embraer (http://www.institutoembraer.com.br/):

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O primeiro semestre da faculdade talvez seja um dos mais difíceis, não pelo conteúdo das disciplinas, mas pela adaptação. Morar em uma cidade diferente, sem sua família, organizar suas contas (e pagá-las no prazo) e comprar sua comida. Você passa a depender de você, e aquele sonho da independência, tão sonhada pela maioria dos adolescentes, se mostra atrelada a uma responsabilidade antes inimaginável. Pra mim não foi diferente, sempre fui muito responsável, mas foi um semestre difícil.

Realmente percebi que é isso que quero pra mim, estou gostando muito da minha Universidade. No primeiro semestre minhas notas foram razoáveis, digo isso por que não chegaram no quanto eu estabeleci como padrão pra mim. Mesmo amando as matérias elas carecem de muito estudo, e era difícil estudar. Não havia foco, estava sempre preocupada com problemas com a casa onde estava morando, ainda tinha medo de São Paulo, ficava correndo atrás de papeladas e tava com vários probleminhas de saúde.

Moro numa casa bem pequena e velhinha, mas é bem próxima da Universidade, o que ajuda muito na questão de organizar e administrar o tempo e também na segurança no caos que é a cidade onde vivo. Nessa casa moram eu e mais dois estudantes, antes eram três, mas uma garota saiu da casa, outra coisa que também trouxe dores de cabeça. Todo o dinheiro é bem contadinho, a parte para alimentação, a da viagem para ver meus pais em alguns finais de semana e a maior parte para moradia. Quando uma das meninas saiu o aluguel e as contas passou a ser dividido em três, ao invés de quatro, e as despesas aumentaram!

De início foi difícil fazer amizades, digo amizades mesmo e não interações com colega de classe. A universidade é lotada de garotas e garotos ricos, que não dão valor ao muito que tem, e normalmente tem muito interesses com as "amizades". Era estranho demais ficar ouvindo as garotas falarem de esmalte para a unha de quarenta dólares e das marcas de sapato que elas compraram na última viagem. 

Me faziam umas perguntas que quando eu contava pra minha família a única coisa que agente podia fazer era rir. Coisas do tipo : "Eu ouvi você dizendo que tá com uns problemas de moradia, vi um apartamento vendendo aqui bem perto por cento e trinta mil, por que você não fala pros seus pai comprarem pra você?", ou "Você gosta tanto desta banda, por que você não foi ao show?". É realmente estranho como as pessoas não entendem o que é não ter dinheiro!

Nesse início de semestre as coisas estão bem melhores pra mim no quesito rotina, estudo para as provas, vou caminhar, ás vezes faço feira, almoço no refeitório da universidade e estudo inglês autonomamente.

Dessa rotina a parte de que aborrece, mas to superando é a parte de estudar inglês sozinha. Durante o semestre passado passei bem apertado e com ajuda da minha mãe pra conseguir juntar, durante cinco meses, quinhentos reais. Esse dinheiro seria pra pagar um semestre de um curso de inglês popular que tem aqui na faculdade, quando cheguei pra me matricular, com os quinhentos reais em mão que juntei, descobri que a apostila custava mais cento e noventa e não pude fazer o curso.

Está aí uma dificuldade de acesso aos estudantes sem recursos. Como competir no mercado de trabalho com um colega de classe que fala cinco idiomas, faz milhares de cursos na área de biológicas e viaja sempre pra reservas ecológicas do mundo todo? Como fazer pra comprar livros que custam mais de duzentos reais, e todos que a biblioteca tem são em inglês... Como estudar assim? Até mesmo estudar em uma universidade pública tem seu preço.

Uma coisa que sempre tenho em mente é que estou procurando forças pra fugir da tal herança social, um conjunto de forças que a sociedade naturalmente te impõe pra você seguir na mesma direção dos seu pais. Meus pais queriam estudar,mas não puderam, eu estou tendo esta chance. Uma pessoa sem grana na faculdade pública é raro, mesmo, talvez as pessoas realmente não entendam isso, a ajuda que recebemos dá a bagagem e a chance pra podermos estar lá, mudando a nossa história e a da nossa família.

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Este depoimento foi um dos motivadores da criação deste blog. É por histórias como esta que o Só a Educação Salva o Brasil defende maior investimento em educação, e de preferência em modelos comprovadamente eficazes como o sugerido pelo Banco Mundial para a erradicação da pobreza através da educação, modelo adotado pelo Fundo de Bolsas do Instituto Embraer.

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